sábado, 7 de fevereiro de 2015

Capitães da Areia - de Jorge Amado

Acabei de ler "Capitães da Areia" um livro que descreve um grupo de meninos de rua de Salvador, menores cuja vida desregrada e marginal é explicada, de uma forma geral, por tragédias familiares relacionadas à condição de miséria. O grupo de meninos que forma os Capitães esconde-se em um armazém abandonado numa das praias da capital baiana. 
Os personagens que compõem o núcleo central da narrativa apresentam algumas particularidades: João Grande possui uma força bruta, o professor é lembrado pelo talento artístico, Sem-Pernas pela amargura existencial, a opressão sertaneja é representada por Volta-Seca, a sexualidade precoce por Gato, o malandro é o Boa-Vida e a tendência à religiosidade manifesta-se em Pirulito. Todos são liderados por Pedro Bala, o protagonista do romance. 
Órfão desde muito cedo, Bala descobre o passado de seu pai, um líder operário assassinado durante uma greve.
A narrativa é estruturada em torno de uma sucessão de episódios vividos pelo bando de garotos, que vão desde ações criminosas, como roubos a residências, até a recuperação de uma imagem de candomblé apreendida pela polícia.
Muito do livro faz pensar em Peter Pan, personagem de J. M. Barrie. O armazém em Salvador é uma espécie de Terra do Nunca, onde só vivem meninos abandonados, e o líder é homônimo: Peter = Pedro. Pode-se propor ainda a semelhança com Robin Hood, que roubava dos ricos (as casas chiques de Salvador) para distribuir entre os pobres (os próprios membros do bando). A semelhança de nomes do melhor amigo do líder também pode ser relacionada, Little John, isto é, Pequeno João, na narrativa inglesa é um apelido irônico, já que se refere a alguém de estatura tão elevada quanto a de João Grande do romance de Jorge Amado.
Pedro Bala possui muito do herói romântico: valentia, coragem e capacidade de se sacrificar pelo grupo. Mas talvez fosse melhor vê-lo como mais um anti-herói , já que se dedica a crimes.
Porém, de mãos dadas com a ficção está a realidade baiana, evidenciada em traços como o preconceito das elites para com os meninos, as greves de trabalhadores, a ação repressora da força policial e, elemento bastante realçado na obra, o sincretismo religioso, que mistura referências católicas a ritos afro-brasileiros. O esforço de consciencialização do leitor é evidente na obra de Jorge Amado, sendo conduzido com a perícia de um grande contador de histórias, criador de narrativas envolventes.
Os adultos participam da narrativa, divididos em dois grupos bem distintos. De um lado, aqueles que rejeitam os meninos: as beatas, a polícia e todos aqueles ligados aos espaços repressivos do reformatório e do orfanato. De outro lado, os cúmplices, como o amigo capoeirista Querido-de-Deus, o padre João Pedro e Don’Aninha, mãe-de-santo.
A simpatia do narrador pelos Capitães da Areia é bastante evidente.
"Essa será sua vingança. Não deixará que o peguem, não tocarão a Mão no seu corpo. Sem-Pernas os odeia como odeia a todo mundo, porque nunca pôde ter um carinho. E no dia que o teve foi obrigado a o abandonar porque a vida já otinha marcado demais. Nunca tivera uma alegria de criança. Se fizera homem antes dos dez anos para lutar pela mais miserável das vidas: a vida de criança abandonada. [...]. Não o levarão".  Ele vê-os como vítimas de uma sociedade injusta, aproximando-os da condição de marginalizados, na qual se identificam com as classes trabalhadoras. O resultado dessa aproximação é sugerido pela trajetória do líder Pedro Bala: conforme cresce, toma consciência da realidade à sua volta, terminando por integrar-se à luta política. Menino órfão, Pedro encontra uma família na revolução socialista – ideal político do autor e explícito no livro.

Fonte:  http://educacao.globo.com/literatura/assunto/resumos-de-livros/capitaes-da-areia.html



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