quarta-feira, 20 de abril de 2011

1326 - Por estas e por outras é que isto chegou onde chegou


Nestes dias mais calmos tenho aproveitado para ler um pouco mais. Por agora, delicio-me com a leitura de "Diz que é uma espécie de democracia" de João Paulo Guerra que passa a livro algumas das suas crónicas semanais no jornal "Diário Económico" que foi publicando ao longo de 10 anos (de Outubro de 1999 a Dezembro de 2008) 

Leiam-se, a título de exemplo, estas duas crónicas de 1999 e entender-se-á o motivo pelo qual "isto" chegou onde chegou...

NARCISO & NARCISO

Narciso Miranda, na qualidade de secretário de Estado da Administração Marítima e Portuária, visitou o concelho de Matosinhos, de cuja Câmara Municipal foi eleito presidente, estando actualmente na modalidade de «mandato suspenso». Mas o secretário de Estado fez questão de reafirmar: «Eu sou o presidente da Câmara de Matosinhos!», acrescentando: «Só tenho é o mandato suspenso». Isto, por ter sido chamado a Lisboa para fazer parte do Governo, como veio nos jornais.
E o que foi fazer Narciso Miranda Secretário ao concelho de Narciso Miranda Presidente? Nada mais, nada menos, que apresentar a construção, como secretário de Estado, de uma obra que tinha prometido, como presidente da Câmara!
Narciso Secretário foi recebido como se fosse Narciso Presidente, ou seja, ele próprio. Deu abraços aos pescadores e beijos às peixeiras que o trataram por «Presidente da Câmara», certamente por não terem lido os jornais. Mas o próprio vereador que substitui Narciso Miranda durante o seu impedimento o tratou por «Presidente», numa demonstração de grande humildade socialista.
A obra que Narciso Secretário foi apresentar ao concelho de onde é Narciso Presidente é para o próximo século. Ou seja:
Narciso Presidente ainda acaba por lançar a primeira pedra da obra agora apresentada por Narciso Secretário!!! E para inaugurar a obra, nada melhor que Narciso Finalmente Ministro!!!!!
13 Dezembro 1999


CARTA AO PAI NATAL

Querido Pai Natal: Para este Natal de fim de século, venho pedir-te que me garantas condições para a minha valorização como pessoa, apoio à família e prevenção de fracturas sociais.
Não entendes? Eu explico.
O que eu quero é um sistema de saúde mais eficiente e de qualidade reconhecida, com acesso à saúde em condições de equidade social, de eficiência e de qualidade reconhecida. Para os meus filhos, peço-te uma educação com novos meios e outras ambições, criando oportunidades de educação e valorização profissional, promovendo emprego de qualidade. Para o conjunto da família, quero garantido o acesso à habitação e conciliada a vida familiar com a profissional, com igualdade de oportunidades, melhores níveis de direitos sociais e uma nova protecção social.
Quero, enfim, desenvolvimento, emprego e bem-estar para mim e para os meus. E para o meu país, quero que ele seja um Portugal de bem-estar. Quero melhores relações das instituições com as pessoas em geral, uma sociedade mais segura, justiça eficaz, novas apostas na ciência e na cultura, tudo isto assente nos valores da cidadania. Numa palavra, Pai Natal, quero a qualidade da democracia.
Pai Natal: se tiveres alguma dificuldade em encontrar o que te peço para o sapatinho deste ano, aconselha-te com o engenheiro Guterres. Esse mesmo. Fiz as minhas escolhas por catálogo, no Programa do Governo.
20 Dezembro 1999


2 comentários:

  1. Faz-nos falta ler este tipo de artigos, com um certo sentido de humor, porque o melhor mesmo que temos a fazer é sorrir...
    Obrigada, João.

    Um beijo.

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  2. Maria:

    O livro é uma delícia! estou farto de me lembrar de canas caricatas que já me tinha esquecido. A tomada de posse do Pedro Santana Lopes é uma delas
    Esses dias foram memoráveis
    João

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