Acabei à pouco dias o ano escolar e gozo os primeiros dias de férias.
Por agora, para além de outros assuntos que desenvolverei num próximo post, dedico-me furiosamente a arrumar o escritório.
Como se o facto de deitar fora milhares de folhas de papel representasse o expurgar de tanta dor acumulada...
No meio das arrumações descobri um recorte que guardei "in nilo tempore" com este poema. Fiz bem em guardá-lo...
A concha
A minha casa é concha. Como os bichos
Segreguei-a de mim com paciência:
Fechada de marés, a sonhos e a lixos,
O horto e os muros só areia e ausência.
Minha casa sou eu e os meus caprichos.
O orgulho carregado de inocência
Se às vezes dá uma varanda, vence-a
O sal que os santos esboroou nos nichos.
E telhados de vidro, e escadarias
Frágeis, cobertas de hera, oh bronze falso!
Lareira aberta pelo vento, as salas frias.
A minha casa... Mas é outra a história:
Sou eu ao vento e à chuva, aqui descalço,
Sentado numa pedra de memória.
Vitorino Nemésio
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