sexta-feira, 1 de dezembro de 2006

121 - Leituras de Outubro e Novembro



  • Os Intelectuais na Idade Média - Jacques Le Goff publicado por Ideias e formas

Leitura muito antiga, dos tempos da Universidade que nunca tinho sido acabada. Interessante, mas que exigia uma cultura geral que à altura não tinha... Impressionante ter sido recomendada como leitura a gente das ciências...



  • Mau tempo no Canal - Vitorino Nemésio da Bertrand

Outra leitura em atraso e que não tinha acabado há muitos anos atrás. História lindíssima e com belíssimos relatos que, felizmente, ficaram para a posteridade. Uma caça à baleia, um relato das festas do Santo Espírito, um cena na taberna e tantas outras sobre amores proibidos e/ou não realizados.



  • O Diário de Anne Frank - Versão definitiva editada pelos livros do Brasil

Após a visita ao anexo em Amesterdão era imprescindível a releitura. Sem palavras, que emoção, que grande emoção ter tido o privilégio de ter lá estado...



DOMINGO, 13 DE DEZEMBRO DE 1942

Querida Kitty,
Estou aqui sentada, muito confortável, no escritório da frente, a espreitar por uma fenda nas cortinas pesadas. Está a anoitecer, li mas há luz suficiente para escrever.
É realmente estranho observar as pessoas a passarem. Parecem estar todas com tanta pressa que quase tropeçam nos seus próprios pés. Os que vão de bicicleta passam tão depressa que nem consigo distinguir-lhes os rostos. As pessoas desta zona não são particularmente atraentes. As crianças, principalmente; são tão sujas que não lhes tocaria nem com um par de tenazes... Verdadeiros miúdos dos bairros de lata, todos ranhosos. Mal consigo perceber uma palavra daquilo que dizem.
Ontem à tarde, quando Margot e eu estávamos a tomar banho, eu disse:
- E se pegássemos numa cana de pesca e puxássemos cada um destes miúdos para dentro quando fossem a passar, os enfiássemos na banheira, lhes lavássemos e remendássemos as roupas, e depois...
- E depois amanhã estariam tão sujos e esfarrapados como antes - respondeu Margot.
- Mas estou a divagar. Há também outras coisas para onde olhar: carros, barcos e a chuva. Consigo ouvir o eléctrico e as crianças e entretenho-me.
Os nossos pensamentos estão sujeitos a tão poucas alterações como nós. São como um carrossel, girando entre os judeus e a comida, a comida e a política. Por falar em judeus, ontem vi dois, quando estava a espreitar pelas cortinas. Senti-me como se estivesse a olhar para uma das Sete Maravilhas do Mundo. Tive uma sensa­ção tão estranha, como se os tivesse denunciado às autoridades e estivesse agora a espiar o seu infortúnio.
Do outro lado da estrada há uma casa-barco. O capitão vive lá, com a mulher e os filhos. Tem um pequeno cão que se farta de ladrar. Conhecemos o cãozinho apenas pelo ladrar e pela cauda, que se consegue ver quando ele anda a correr no convés. Oh, que pena, começou a chover e a maior parte das pessoas está escondida debaixo dos chapéus-de-chuva. Só consigo ver gabardinas e, de vez em quando, a parte de trás de uma cabeça coberta. Na verdade, nem preciso de olhar muito. Já consigo reconhecer as mulheres apenas com um olhar: gordas por causa de comerem muitas batatas, vestidas com um casaco vermelho ou verde e calçando sapatos gastos, com um saco de compras pendurado no braço, e expressões que são severas ou bem-humoradas, dependendo do estado de espírito dos maridos.

Tua, Anne


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