segunda-feira, 17 de julho de 2006

58- este não é poema, mas que tem algum "sumo" lá isso tem


Os sonhos dos gatos – António Torrado

O gato do telhado, que passava o dia no telhado, e o gato da janela, que passava o dia à janela, quiseram mudar a vida.
- Vamos fazer uma só casa para nós.- propôs um deles.
- Boa ideia! Boa ideia! - aplaudiu o outro.
Não interessa quem falou primeiro. Basta que se saiba, aqui em segredo, que qualquer dos dois gatos era um bocado lunático, de tanto olhar para a Lua em noites de lua cheia...
- Para construir uma casa, temos que começar pelo princípio. - decidiu um deles.
- Pois claro! Pois claro! - concordou o outro.
Até este ponto não houve problemas. Mas as dificuldades já vinham a caminho...
- Começa-se pelo telhado. - sugeriu um deles.
- Começa-se pelas janelas. - contrapôs o outro.
Aqui não se entenderam. Discutiram, miaram, "remiaram", bufaram e até se "agatanharam".
- Vou construir a minha casa sozinho. - disse um deles.
- E eu vou construir a minha casa sem mais ajuda. - disse o outro.
Estava desfeita a sociedade. Cada qual foi para seu lado.
Que pena!
Ficaram então sem casa?
Pois claro que sim.Pois claro que não.
O gato do telhado juntou umas telhas, ajeitou umas sobre as outras e miou todo contente:
- Como construtor sou um primor!
Depois adormeceu em cima da sua obra.
O gato da janela juntou umas madeiras, pregou-as umas às outras e miou feliz da vida:
- Na construção sou campeão!
Depois adormeceu atrás da sua obra.
Querem acordá-los do seu sonho de gatos sem eira nem beira?
Querem desiludi-los e dizer-lhes que estão ambos enganados?
Não querem?
Nós também não.

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